quarta-feira, 2 de março de 2011

Leitura de jornal

Hélio Consolaro*

Não basta saber ler as letras mecanicamente para fazer uma boa leitura de jornal. O chamando “analfabeto funcional” não sabe ler jornal, apenas lê como se fosse o raio laser de um aparelho de som. Não estou me referindo a esta Folha, mas a todos os jornais, da Europa, Estados Unidos, São Paulo e do interior. Às vezes, um bom leitor de livros não domina plenamente a leitura de jornais.

Para se ler bem os textos, segundo Paulo Freire, se faz necessária uma leitura de mundo. Na minha cosmovisão, por exemplo, não existe nada neutro, todos nós temos interesses, legítimos ou escusos, e tentamos enobrecê-los. Quando alguém se declara neutro, há nisso alguma manobra.

Outra coisa que precisa ser dita. Todos nós temos partes positivas e negativas, ninguém é só diabo ou só anjo. Se desejo falar ou escrever bem de alguém, focalizo o lado bom dessa pessoa; se quero esculhambar, jogo os holofotes na parte feia dela.

Tudo isso precisa ser dito porque a verdade não mora apenas num lado, ela se divide. Não posso ser arrogante em dizer que estou com a verdade, e outro está totalmente errado. A unilateralidade e a arrogância são parentas próximas. 

Como o jornal é um produto humano, reflete todas as  limitações da espécie. No jornal escrito, os interesses se revelam com todas as letras na composição da primeira página. Ela funciona como as chamadas do jornal televisivo durante a programação da emissora.

Há no órgão de imprensa uma equipe de jornalistas que produz notícias e reportagens. Qual será a manchete ou quais estarão como chamadas na primeira página? Que critérios serão usados na seleção? Por que tantas notícias saem perdidas entre as páginas e uma ganha tanto destaque? 

A resposta a essa pergunta é repleta de subjetivismo, ideologia e interesses. Se um jornal põe todos os dias manchetes contra o governador, por exemplo, nem precisa dizer que a empresa e a equipe de jornalistas não são simpáticas ao dirigente do estado.

Se todos os dias há manchetes favoráveis ao prefeito da cidade, o jornal faz parte do esquema, porque entre dar a notícia e fazê-la manchete, percorre uma soma de fatores que, às vezes, não é percebido pelo leitor. E quem trabalha no poder público, em cargo de direção, ou é dono de jornal ou jornalista sabem quantas propostas indecentes surgem neste campo.

Então, caro leitor , sempre orientei meus alunos como ler jornais, usando o Projeto “Jornal na Sala de Aula” desta Folha, existente desde 1994. É uma função da escola ensinar seus alunos a ler jornal, como selecionar bons programas de televisão e agora usar adequadamente a internet.

Tais ensinamentos ferem interesses? Claro! Porque, quanto mais cidadãos plenos, as manobras de ambos os lados (governo e imprensa) se tornam mais difíceis, são desmascaradas com facilidade. Construir a cidadania deve ser o interesse de toda a sociedade.     


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.

2 comentários:

  1. Olá, Hélio!
    Tem um selo pra vc lá em meu blog.
    Parabéns pelas postagens!
    Bjs e lindo final de semana...

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  2. Olá, boa tarde!
    Se puder e tiver um tempo, passe lá no meu blog. Se gostar, me siga.
    Vai ser um prazer ter sua visita.
    Deixe lá seus comentários.
    Eu já estou te seguindo.
    Tô dentro. Gostei daqui do seu espaço.
    Felicidades, hoje e sempre.
    Abraço iluminado,
    João.

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