segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Juízo de fato e de valor

Se dissermos: "Está chovendo", estaremos enunciando um acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos: "A chuva é boa para as plantas" ou "A chuva é bela", estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor, avaliações sobre coisas, pessoas, situações, são proferidos na moral, nas artes, na política, na religião.
Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade... Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista moral.
Como se pode observar, senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar ou detestar (Marilena Chauí).

Exemplos: minha indignação diante da violência e da pobreza faz parte de meu senso moral.
Uma pessoa querida com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo está ligado a máquina que a conservam. Suas dores são intoleráveis. Não seria melhor deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos? Que fazer? Essas perguntas são de minha consciência moral.

O que é preconceito?

É uma opinião, uma ideia negativa sobre uma pessoa ou um grupo de pessoas, que se forma e se desenvolve mesmo antes de se conhecer os fatos e as razões do outro lado. Ou seja, é feito um julgamento antecipado, geralmente baseado no fato daquela pessoa ou grupo serem diferentes de quem sente o preconceito. Essas possíveis diferenças vão justificar que um grupo se sinta superior ao outro e se julgue com mais direitos e privilégios.

Na redação

Cuidado, porém. Todo e qualquer juízo de valor que manifeste uma posição de desrespeito em relação aos outros, que evidencie uma postura preconceituosa, deve ser banido de um texto argumentativo.
Não nos cabe, nesse contexto, discutir se o aluno tem ou não o direito de ser preconceituoso e manifestar seu preconceito, por mais questionável que seja esse direito. O que é necessário compreender é que, no caso da argumentação, juízos de valor que depreciam as pessoas e as coisas raramente são sustentáveis pela lógica e, sendo assim, ferem o próprio princípio da análise que se pretende fazer. E, de mais a mais, uma postura preconceituosa impede, por definição, o raciocínio lógico, porque este exige a disponibilidade para discutir, analisar, ponderar diferentes aspectos de uma mesma questão. Se você parte para análise com um “conceito” preestabelecido, significa que não estará fazendo análise alguma. Estará, na verdade, apresentando uma conclusão (a sua, inteiramente particular), pelo simples motivo de “acreditar” que “já sabe”.

Atividades de leitura e escrita

O culto do Che: solução do enigma

Como revolucionário, Che Guevara foi um vulgar tiranete, um assassino que se comprazia em execu¬tar pessoalmente as sentenças de morte que assi¬nava; como ministro da Economia, foi um fiasco do qual o próprio regime cubano se livrou o mais rápido que pôde; como guerrilheiro, foi um recordista de inépcia1, capaz de perder para o exército mais pífio2 da América Latina. Que encantos possui essa porca¬ria de personagem para que tantos brasileiros se babem de gozo devoto ante sua imagem e conce¬dam mais vasta homenagem aos trinta anos de sua morte do que aos trezentos do nascimento de Vieira e aos quatrocentos de Anchieta? Associar a barba rala de adolescente a algum odor de santidade, me desculpem, mas é pura perversão sexual: não expli¬ca nada.
CARVALHO, Olavo de. A longa marcha da vaca para o brejo — O Imbecil Coletivo

Vocabulário
Inépcia: falta de aptidão, de inteligência, idiotismo.
Pífio; reles, ordinário.
5. Por que os trechos identificados na questão anterior constituem juízos de valor?

Nova Floresta
Sucede às vezes na mesma família haver três irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, e um deles ser de condição fácil e bem intencionada, outro de condição retrincada e maliciosa, e outro de condição baixa e rasteira: o primeiro parece eu¬ropeu, que escreve da mão esquerda para a direi¬ta; o segundo parece hebreu, que escreve da direi¬ta para a esquerda; o terceiro parece chino, que escreve de cima para baixo. Mais é, que, ainda den¬tro do ventre de Rebeca, já os dois meninos Esaú e Jacob renhiam e tinham tão diferentes gênios como duas nações opostas. Nos rostos, nas vozes, nas letras, apenas há entre milhões de homens um que se pareça inteiramente com o outro. Por que não há de ser assim também nos gostos, opiniões e ditames?
ln BERNARDES, Manuel. Nova Floresta.
Seleção e apresentação de João Ubaldo Ribeiro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993. p. 83.

a) Identifique o preconceito que se evidencia no discurso de Bernardes, quando este compara três irmãos a três diferentes povos.
R.
b) Comprove sua resposta com exemplos do texto.
R.

3 comentários:

  1. muito bom...me ajudou bastante a compreende a diferença entre o juízo de valor e o de fato. Mas, o preconceito e qualquer outro tipo de depreciação seriam também considerados juízos de valor?

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  2. A URL do Aulete mudou. Não está mais no UOL. Você precisa ajustar sua caixa de pesquisa para o endereço: www.aulete.com.br

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